terça-feira, 27 de maio de 2014

Melhores Dias



Minha máquina do tempo é a nossa música. Quando ouço, volto pro teu lado, volto pra nós, volto pra você e você pra mim. Ali você é (ra) minha. Volto no dia que nos conhecemos, vivo tudo de novo, enxergando em terceira pessoa, vendo nossa história como um filme, vendo tudo de bom que vivemos e dando “FF” nas partes chatas. Volto no dia que peguei tua mão pela primeira vez. Lembro cada segundo do primeiro sorriso teu que recebi – foi o dia mais feliz.

Lembro quando você ria e encostava a cabeça no meu ombro, ensaiando uma gargalhada – essa era a melhor parte. Lembro o jeito que mexia a boca quando me contava sobre teu dia, falando sem parar, e do cheiro das tuas unhas – esse era o melhor cheiro. Mas eu gosto mesmo é de voltar no dia que a gente se encontrava escondido – esse era o dia mais feliz. A gente não percebia nossa própria loucura. A gente não ligava pra nada. Nem pro dia, nem pra hora, nem pra chuva, nem pro orgulho. O mundo era nosso.

Contigo, tive vários “melhores dias da vida”, e o mais triste também - quando foi e não voltou. Mas continuo te esperando, sobrevivendo os dias mais tristes. Quando acho que vou morrer, ouço nossa música noventa e nove vezes e volto voando pro teu lado. Ameniza a dor, a vontade de morrer passa e minha espera se fortalece. Sinto vontade de viver mais um pouquinho, igualzinho ao nosso filme que reprisa quando toca nossa música. Como faz pra coragem prevalecer a covardia? Como saber se o orgulho não virou estupidez? Gostava mais quando a Dona Desculpa e o Senhor Abraço vinham conversar com a gente. Já me acostumei a te perder de vez em quando, menos pra sempre. Tinha mais graça quando você voltava. Das dores, a pior é a tua lonjura.

Enquanto isso, vou compensar tua distância ouvindo nossa música até você voltar, só de raiva. Até porquê, quando ela toca, o filme reprisa e você volta a ensaiar a gargalhada no meu ombro. Teu cheiro volta junto. Na minha máquina do tempo, quem manda sou eu e eu ordeno que você nunca saia daqui. Aqui, você é minha e eu faço o que quiser de você. E quando a música acabar e você for embora, abro os olhos, levanto rápido da cama e boto pra tocar de novo, e de novo, e de novo... Até a tua realidade perceber que precisamos fazer a parte dois do nosso filme, dessa vez sem drama. Comédia romântica combina mais com a gente.

(Marcos Ubaldino)

domingo, 18 de maio de 2014

O Chão que Resolvia Problemas


E ali terminavam nossos problemas, no chão sujo mesmo. Em meio às roupas e livros do teu quarto. A televisão ligada num volume baixo e somente nós dois...

Te esbofeteei a cara, te puxei o cabelo pela nuca, estapeei-te novamente e, com força, te desci, até teu rosto tocar o chão gelado. Joguei-te no chão, te fazendo cair de quatro, tal qual uma cachorra, pronta para ser penetrada. Você hesitou, mas quando te rasguei a intimidade da calcinha, se alegrou tanto que a alegria se materializou no tesão que escorria entre tuas pernas, sujando minhas mãos e minha língua. Você cheirava a tesão desvairado, algo louco, e pedia com autoridade de submissão, como uma mendiga por um pedaço de pão, para que eu entrasse em você. Te ajeitei os pés, enverguei-te em forma de arco, e enquanto tudo aquilo atrás de você, empinado, apontando para o alto, me encarava, deitei minhas mãos sobre tua cintura e caí com a língua dentro de você. Já encharcado de saliva, levantei, apertei com força as tuas ancas, puxando-a contra a minha em viagens de ida e de volta. Já estourando a cueca de tanta vontade, arriei minhas calças com pressa e entrei... Entrei fundo e fiquei.

Entrei com tanta força que te senti explodir na ponta de mim. Senti as batidas do teu coração no meu corpo inteiro, como se fôssemos um. Dançávamos a mesma música, no mesmo ritmo, com a mesma força, na mesma intensidade, com o mesmo suor, as mesmas unhas, os mesmos tapas, as mesmas mordidas, os mesmos gemidos, a mesma temperatura fervilhante. Um apenas. Entrei, e fui entrando várias vezes, agradecendo e aceitando o convite de todos os teus lábios, que me convidavam obrigatoriamente a adentrar, com palavras e apertos aveludados e úmidos. Escorria prazer entre tuas pernas.

Nos transformamos em animais, bichos selvagens, sem pudores, sem nojinhos. A selvageria de matar minha fome de você fazia com que eu entrasse com mais força a cada ida e volta. Ali mesmo eu apaguei teu incêndio... Uma, duas, três vezes. Com raiva, com força, com fome. Ali resolvemos tudo. Ali não existe problema, apenas solução. Ali não há espaço para perda de tempo, para infelicidade inventada, apenas cabe o prazer da fidelidade dos nossos corpos. Ali nós fomos felizes. Ali, somos felizes para sempre. Pelo menos até amanhã.

(Marcos Ubaldino)

quarta-feira, 14 de maio de 2014

O Mentiroso (In) Feliz


Então, ele percebeu claramente que verdades machucam, mesmo que sinceras, puras e inocentes. Elas rasgam violentamente a esperança tirando-lhe a vida, mesmo esta sendo a última a morrer. Elas sufocam o último suspiro vital. A verdade torna-se inimiga da felicidade. Ela destrói a força do sonho e esfrega a dor da realidade na tua cara, cortando tuas asas e fazendo-lhe cair do alto das nuvens ao poço mais profundo.

Porém, ele escolheu o outro lado. Permitiu-se crer nas mentiras. Sim, ele agora prefere as fábulas da mentira, pois essas, diferente das verdades, confortam, acalmam e amaciam a felicidade. Agora, se deixa levar pelo aconchego das mentiras, descartando qualquer sinal ou manifestação da verdade. Vive a sua própria utopia, seu próprio mundo, permitindo-se viver de sonhos mentirosos a realidades verdadeiras. 

Um ato de coragem e manutenção da própria vida, da própria felicidade. Preferiu viver acorrentado na felicidade falsa criada pela utopia, que livre na realidade suja e cruel da vida. Assim ele optou e permitiu-se. Assim ele escolheu viver. Assim ele é o melhor que pode ser.

(Marcos Ubaldino)

sábado, 10 de maio de 2014

Tormentas de Um Passado que É (ra)


Necessito novas meias, novos livros, velhos sambas, novos goles, novos cheiros, velhos abraços, novos beijos, novos choros, velhos risos, novas camas, velhos amores, velhos vinhos, novos acasos, novas paixões, novos corpos, velhos corações, novos arranhões, velhas declarações... Novos motivos para ressuscitar minha vida e ter alguma graça.

Necessito você.

(Marcos Ubaldino)