segunda-feira, 16 de junho de 2014

Amor que Sobrou


Tomado de covardia e dor 
Abrandei-me com uma decisão
Fui até a tua janela
Com um envelope na mão


Frente à janela do teu quarto
Fui invadido pela emoção
Mesmo assim, tomei coragem
E arranquei do peito o coração

Coração que não me quis
Só por ti sabia bater
Não podia mais suprir
A ausência do teu ser

Ele, não mais me queria
Escolhi então te dar
No meu peito só doía
Com desejo de te amar

Coloquei-o no envelope
Tentando dele me abster
O que por mim, não mais batia
E só por ti suplicava viver

Selei com beijo e sangue
O que morava nesse buraco de dor
Que agora, longe de mim
Ele possa sentir teu amor

Joguei-o com força na tua janela
Estilhaçando o vidro e caindo na tua cama
O envelope é um presente
É a vida de quem te ama

Não foi o suficiente
Pois, ainda sobrou dor
Mas vou ficar com esse restinho
Que sobrou do teu amor

Cuida bem da minha vida
Que agora, bate em tuas mãos
Deixe que as sobras da ferida
Com a tua saudade sentida

Cicatrize a dor mantida
Da tua lonjura infinita
No buraco, que abrigava a minha vida
Renasça um novo coração

E quando o que lhe dei
Por ti, parar de bater
Não esqueça daquela ferida
Que de tanto te amar demais
Inventou uma nova vida.

Esta nova vida inventada
Materializou-se num outro coração
Que no meu peito, só sofre de dor
Desejando viver e morrer
Na palma da tua mão

(Marcos Ubaldino)

segunda-feira, 9 de junho de 2014

O Homem que não tinha Coração


Ela disse que eu não tinha coração e foi embora. Mal sabe ela que eu já tive um, mas antes dela, já o tinham levado e até hoje não devolveram. Não sobrou nada. Ficou só essa ferida aqui mesmo... Ela foi embora, levou-me tudo, até a ferida do coração que não morava mais aqui. Só esqueceu a saudade na cabeceira da cama.

Saudade... 

O preto do arco-íris
O enlouquecer quieto
O açoite sem chibata
Um prato sem comida
Um violão sem corda
A Eterna Desventura de Vinícius
A Construção de Chico
A Minha de Cartola
A Tristeza Bonita de Candeia
O cotovelo do coração
A mãe da covardia
A marca de giz num quadro apagado
O amor que sobrou
O raio que cai onze vezes no mesmo lugar

... Ela se foi, vestida de azul, ela brigou comigo, virou-me as costas, bateu a porta e saiu. Levou-me tudo, só deixou saudade... Azul era minha cor preferida, até ela ir embora vestida lindamente dele... Odeio azul. Até meu gosto ele levou, só esqueceu a saudade mesmo. Mas eu tirei a saudade da cabeceira e guardei-a na ferida que se abriu no lugar da ferida que ela levou. Vou escrever uma carta dizendo que ela esqueceu isso aqui. Vou dizer pra ela vir matar essa saudade ou pelo menos, arrancá-la do meu peito e levá-la com ela. Sei lá, só não quero ficar com isso. Só assim para que a ferida aberta em cima da outra, tenha paz e talvez, consiga cicatrizar antes de abrirem outra. Enquanto isso, agonizo a abertura infinda da ferida, à espera da devolução do coração que me levaram, ou pelo menos, da ferida que morava aqui antes dessa.

(Marcos Ubaldino)