quarta-feira, 30 de abril de 2014

Derrota Desejada


Então, falou sozinho com a voz do pensamento:

- Adoro esse jogo de culpa... Minha soberba se enche achando estar com a certeza irrefutável, mas no fundo, me percebo o maior imbecil do mundo, fazendo de tudo para perder o que mais quero ganhar na vida.


Respirou fundo, fechou os olhos e soltou o ar, pensando que na expiração ela voltaria.

(Marcos Ubaldino)

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Baile de Máscaras


A vida é um grande e eterno baile de máscaras. Uma festa em que todos se fantasiam, sem exceção. Cada convidado tem uma gaveta cheia delas, mas é fantasiado sem escolhas, quem escolhe é a dona da festa. Então, a vida faz a distribuição das máscaras de acordo com seus próprios planos para cada convidado.

Um recebe, veste e festeja com a máscara da riqueza, outro com a do amor. Um da inveja, outro da dor. Um do sofrimento, outro da paixão. Um da fome, outro do pão. Um da tristeza, outro do choro. Um do orgulho, outro da verdade. Um da prisão, outro da liberdade. Um da traição, outro da fidelidade. Um do riso, outro da coragem. Um da força, outro da fraqueza. Um da igualdade, outro da incerteza. Um da conformação, outro da Revolução. Um da pobreza, outro da mentira. Um da vida, outro da morte.

Com tudo, a festa da vida é eterna, e se altera com o deus tempo. Hoje, quem se reveste da máscara da dor, amanhã vestirá a do riso. Ontem, quem vestiu prisão, hoje veste liberdade. Amanhã, quem calçar a máscara da soberba, na volta do garçom, vestirá humildade. A festa conduz o rodízio de fantasias, mas a forma de uso é de livre escolha.

As máscaras vão caindo e dando lugar a outras em um ciclo imortal. A festa não acaba nunca, só troca os convidados. Portanto, por mais poder que a dona da festa tenha sobre você, você é livre. Ela só pode fantasiar o exterior, mas não toca a parte de dentro. Ela limita-se a capa. Portanto, se ela lhe vestir a máscara da doença, seja saudável por dentro. Se lhe der a da soberba, seja humilde. Se lhe calçar a tristeza, grite de alegria. Se lhe vestir a dor, revista-se de amor.

O segredo é adaptar-se ao rodízio da festa, pois ela roda com força, sem avisar. Ela arranca e põe outra de acordo com os planos dela. Seja forte, mesmo que vestido de fraqueza. O interno tem força sobre o externo e é ele quem dita o ritmo da festa, independente de máscaras ou planos.

Aproveite a festa, beba tudo! Faça dela a sua própria... Afinal, ela só existe porque tem você como convidado.

(Marcos Ubaldino)

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Proclamação de Dependência


Hoje está proclamada a independência do meu coração. Sim, estou triste e saudosa... E briguei com ele também. A partir de hoje, meu coração é independente, basta-se apenas consigo mesmo e seus vasos sanguíneos. Não quer mais saber de outras correntes quentinhas perto dele. Ele esfriou. Mas sei que esse “hoje” é mais rápido que um sorriso amarelo. Sei que, amanhã ou até antes, ele voltará a sua dependência natural. Na verdade, eu acho que assim que acabar de proclamar minha independência, a dependência já reinará novamente. Na realidade mesmo, acho que neste exato momento ele ainda está dependente. Também, uma vida inteira não se transforma da noite pro dia, ou nos poucos segundos alegres de um sorriso amarelo.

Porém, mesmo sabendo disso tudo, sabendo que eu engano a mim mesmo dizendo palavras bonitas e desapegadas que só servem pra acariciar meu orgulho, que não passam de enganações próprias, que a dependência ainda continua e que isto não passa de um pequeno surto de raiva e carência que me encorajou por alguns minutos só pra demonstrar que não preciso de você... Mesmo sabendo tudo isso, eu acredito na minha mentira. Eu não preciso de você, meu coração que precisa. Isso mesmo, estou livre de você, basta convencer meu coração à se livrar também. Estou livre e condenada ao mesmo tempo. Você perdeu, bobão.

Sim... Me manterei nessa mentira confortante e vou fingir pra tudo, todos e pra mim mesma que não te quero nunca mais. Mesmo te querendo, eu não te quero.

Parei!

Dizem que somos o que acreditamos ser. Eu acredito que somos o que podemos ser. Não acredito ser uma mentirosa, mas posso ser uma. É, tá aí, escolho isso, ser uma mentira... Pelo menos até os poucos segundos alegres de um sorriso amarelo se entristecerem novamente. 

(Marcos Ubaldino)

sábado, 12 de abril de 2014

Pretéritos Imperfeitos do Tempo


O lado bom é que o tempo passa, e com ele, passam a dor, a angústia e o nó na garganta. O lado ruim é que o tempo passa, e com ele vai-se a irresponsabilidade da juventude, a pureza da inocência e todas as chances de poder errar. Pois é, o tempo leva muitas coisas, mas na verdade, eu queria mesmo é o passado. Abro mão da sabedoria adquirida, da experiência do tempo, e desejo com ardor e água na boca os erros do passado. A felicidade era lá atrás, contigo, não agora, não com ela. 

Antes um passado com choro por ter brigado contigo, que um presente com o sorriso de qualquer outra. O teu inverno polar de frieza é infinitamente melhor que o verão carioca de carinho dela. Tua tempestade é mais calma que qualquer pôr de Sol. O que me dominava, era a sua forma de me matar ficando longe e de me ressuscitar com um abraço e um cheiro nas desculpas. Prefiro mil vezes os teus erros, que os acertos de quem só me acompanha. O lado bom é que ela foi, o lado ruim é que eu fiquei... Sozinho. Antes a loucura do teu caos, que o marasmo da ordem dela. Ela não tem culpa, a culpa é tua... Não dela, nem minha. Ela não merece isso. Pare de ser tão insuportavelmente apaixonante e tenha a humildade de abandonar meus pensamentos, pelo menos na hora do trabalho. Na verdade, acho que a culpa é minha mesmo.

Que seja...

O tempo não serve pra nada quando se trata de um pedaço de si mesmo longe do próprio corpo. Afinal, a vida serve pra isso... Lamentar o presente, sonhar um futuro e desejar desesperadamente a repetição urgente do passado.

(Marcos Ubaldino)