quarta-feira, 20 de maio de 2015

República Hipocrática da Ordem e Progresso


Hoje, aqui, qualquer ação destoante do marasmo da normalidade é vista como arrogância, como vaidade, independente dos lados. A classificação e o rótulo são instantâneos, quase que pré-existentes. Todos devem permanecer na linha do médio, de bom grado ou não. Todos devem ser 5; Um 10 é tão ruim quanto um 3, ou um 9, ou um 2, ou qualquer que seja a coisa que não um 5; o meio, a média, a linha divina da ordem.

Não! Não seja bom! Jamais seja bom, seu elitista preconceituoso.
Não! Não seja ruim! Seu bandidinho, cotista incompetente.

A diferença entre corrupção e bandidagem é restrita a quem comete o crime. O corrupto é um 8, o bandidinho, um 2. Ou seja, mantenha a média, seja 5 sempre. Não seja político nem traficante, contente-se com seu 5, seu gato de luz e água, sua Favelox, seu Gato-NET, sua carteirinha falsa e seu discurso de bom cidadão. Isso é ser 5, isso é estar na média. Acuse sempre os não-medianos (oitos, quatros, noves e uns) de culpados de tudo de ruim que acontece aqui.

Fora da linha não é permitido ser nada além de um ou outro. Ou se é preto ou branco, fogo ou água, bom ou mau, quente ou frio, esquerdo ou direito. Atinja à média! Não seja bom ou ruim, seja mais ou menos. Não converse na norma culta com quem não entende a mesma, isso é arrogância; não use gírias num ambiente formal, isso é vaidade. Não discorde nem concorde, fique aí mesmo, em cima do muro; não seja ativo ou passivo, seja indeciso. Nunca seja frio ou quente, seja morno. Não ouse opinar, não saber é sempre o melhor caminho. Relativize tudo sem chegar à conclusão alguma, isto é o correto, esta é a média cobrada pela linha divina. Quebre tabus, mesmo sem saber o que é, mas a média exige, então quebre. Desconstrua tudo sem a responsabilidade de construir nada, apenas destrua por destruir, o 5 é certo. Não ultrapasse a linha!

Com tudo, com ou sem você, a linha permanece na sua normalidade mediana, rasa, estúpida e hipócrita. Não tente compreender... Tentar é pedir ordem ao Caos. Apenas mantenha à média. Ou seja, não seja. Seja nada... Ou não.

Seja 5, apenas e só.

(Marcos Ubaldino)

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Epíteto à Santa Joanita Bassárida


No auge de seus vinte e seis, pele branca como poupa de maçã, cabelos negros em caracóis, como o mar do Arpoador à noite, até o meio das costas. Olhos grandes, como duas Marias do céu. A boca mais perfeita que a perfeição, com um sorriso que supera adjetivos. Os seios? Ah... Os seios... Mais carnudos que um caju maduro, pronto para desfalecer do pé. De tão duros, apontavam aquelas torneiras rosadas, encarando qualquer olhar atravessado. Água-me à boca só de pensá-los. A barriga mais parecia uma cachoeira de tão bela, e se abria nas ancas de viola que tinha. Que desenho! A bunda, mais parecia o Pão de Açúcar no auge da Belle Époque carioca, com toda a pompa e charme de madame perfumosa. A curva das virilhas, com uma pelugem rala nas bordas daqueles pequenos lábios umedecidos, emendava-se em perfeita sintonia com seu botão de algodão, de tão macio e suave aos olhos. As pernas conversavam com aqueles pés mais gostosos que pão francês. Perfeição não define aquela moça, ela transcendia padrões, achismos e certezas. Era a Filosofia em persona, onde, só de olhar, se libertava da ignorância e dava-se boas vindas ao conhecimento. Ela era o próprio! 

Joanita estuprava a vida de tanta liberdade. Não cabia nada em Joanita, ela transbordava tudo por onde passava. Detestava qualquer sensação de prisão, por isso não usava sutiã. Achava o mesmo das calcinhas, mas sua depravação e gosto pela sacanagem fizeram ela superar tal prisão e se render às rendinhas de variadas cores e tamanhos que adorava usar. Era uma louca em seu tempo. Uma vez, na fila da praia de Copacabana, baixou sua insanidade transbordante, saiu correndo, passou pelo medidor de trajes e, enquanto ia em direção à vitalidade do mar, arrancou seus trajes desmedidos, deixando as tetas à mostra, com as pontas que mais pareciam cerejas de tão deliciosas, à luz do sol. Deu dois mergulhos e, aos gritos de "meretriz", acenou aos banhistas da fila, mandando beijos e soprando-os até os indianos. Maluca! Joanita era desvairada em vida.

Joanita era mulher, ninfeta e ninfomaníaca. Adorava sair na rua com os caracóis em rabo de cavalo, uma blusinha curtinha e transparente o suficiente para salientar as bicas que pareciam miolo de melancia, estourando, gritando liberdade de tão acesas e rígidas. A saia eram dois palmos de pedreiro acima do joelho, e a calcinha, vermelhinha, mas quase invisível de tão pequeninha. Era cavada no botão e na perseguida, deixando um cheirinho maravilhoso. Ela amava ser olhada, ser desejada, ser admirada, mas ai dos dedos que lhe tocassem e da boca que proclamasse "gostosa". Ela odiava! Por vezes, deixava às claras seus desejos. Joanita não tinha preferência, ela só era quem era, nada mais. Gostava de paus pretos, brancos, amarelos, pardos, rosas, roxos... Não tinha preferência. Adorava rolas grossas, finas, grandes, pequenas, cabeçudas, tortas, veiudas, sacudas... Joanita gostava e gostava muito. Chupava que nem uma desesperada. Fazia da pica um pêssego em caldas, de tanto que babava a cabeça e o resto. Ela adorava isso... Ficava horas, só chupando, e babando, e cheirando, e apertando, e babando, e chupando... Não cansava nunca. Sugava as bolas com tanta fome, que pareciam uvas descaroçadas. Botava tudo na boca, engolia de uma vez só e depois cuspia, lambendo, cheirando e esfregando o rosto naquele saco babado. Apertava a rola com tanta força, que as veias saltavam de alegria, e enquanto esgarçava a piroca até o talo, sugava a cabeça com tanto gosto que fazia barulho quando a boca se separava da rola. Que alegria daquela menina... Não podia ver uma rola torta e dura que já aguava de felicidade. Como gostava de pirú aquela moça... Ela chupava, babava, cheirava e passava na cara, tudo com um sorriso safado no rosto. Ela ria com a pica na goela. Rola, era sinônimo de felicidade para aquela menina. Só parava de chupar pra dar de quatro no chão. Sim, tinha que ser no chão puro e gelado, coisa dela. Tirava o pau da boca já caindo de quatro e intimando o dito cujo à adentrá-la com força, como ordem de atravessá-la ao meio de tanta selvageria. Ela gostava assim, desse jeito. Queria forte e fraco, queria mandar e obedecer, queria bater e apanhar... Ah, é mesmo, Joanita adorava apanhar. Gostava de tomar tapa na cara e pedia pra ser xingada. Ele gostava da sensação de ser tratada com possessividade. Gostava de ser uma coisa, um bicho selvagem na hora de trepar. Mas o jogo virava, e quando ela cavalgava por cima, era vez dela meu amigo. Enquanto sentava raivosa, arranhava, com suas unhas enormes, o peito do macho até sangrar. Era doida, tô dizendo.

Joanita era também, apreciadora nata de rachas fêmeas. Apesar de adorar um beijo grego e um fio-terra nos machos que comia, Joanita não resistia à uma rachinha lisa e cheirosa. Ela clamava, pedia, implorava... Sua boceta piscava mais que asa de beija-flor quando sentia o cheirinho das xoxotinhas das moças da sua rua. Joanita gozava galões quando puxavam seus caracóis com força pra trás, enquanto sua boceta era magoada com estocadas firmes, fazendo sua racha se encharcar, ficar em caldas, escorrer de tanta vontade de foder pra sempre. Melhor ainda quando, ao ser invadida por trás, tivesse à sua frente, uma racha ralinha em pêlos, aí ela enlouquecia. Joanita chupava boceta igual mendigo comendo mamão, se lambuzava toda. Adorava uma bocetinha... Aos sábados, ela tinha súbitos de bacante, e distribuía o que era dela pra dois, três, quatro... Sem medo de ser feliz. Se enfiava e era enfiada, dava e recebia, por homens, mulheres, moças, rapazes, senhoras, senhores... Ela só queria comemorar.

Joanita era famosa, porém discreta e respeitosa. Seus desejos e depravações se ateavam nas paredes que ocultavam sua selvageria e libertava sua loucura. Era a Literatura poética do bairro, um mito vivo. Joanita era uma dama, educada nas escolas Parisienses, pautada no moral e nos bons costumes da Igreja de São Marcos, no bairro onde morava. Igreja esta que mais parecia um Templo Dionisíaco de tanta sacanagem entre clérigos e leigos. Padre Armando que o diga... Catequista de Joanita quando a menina tinha quatorze aninhos, dava-lhe a comunhão de domingo, acompanhada de uma passada de mão nas tetas. Ela adorava aquilo... Quando todos partiam, ela ficava para ajudá-lo à arrumar a Igreja. A arrumação terminava com a boca de Joanita na rola do Santo Padre, bem na salinha ao lado do Presbitério, onde se guardava as batinas de Armandinho, o Padre de Sodoma. Ela chupava com uma fidelidade digna de uma boa religiosa, chupava que parecia rezar. Armando dava graças gozando no rostinho jovial e inocente de Joanita, que não deixava uma gota pra contar história. Ao final da arrumação, ela confessava seus pecados à Armandinho, que absolvia a pequena vadia mediante boquetes famintos em posteriores domingos. Joanitinha adorava pagar por seus pecados... Menina educada, também adorava ser chupada. A sensação de ser engolida viva, de ser sugada por um grande aspirador de bocetas em carne, sangue e cuspe, fazia a moça gozar múltiplas vezes nas línguas que deslizavam seu corpo. Era como se uma cascata grossa de cachoeira entrasse em sua caverna, preenchendo todos os buracos de uma vez só. Gozava tanto, que esguichava quatro metros e meio de tanta safadeza.

Joanita era uma inconstância ambulante, uma menina que fazia da vida, céu e inferno. Resolvia tudo na terra, no tapa, no cuspe, na boceta, no tesão, no esperma, no campo da carne. Nada morria na imperfeição da sua imaginação. Era uma danada dos diabos que, tentava a masculinidade dos machos e a curiosidade das fêmeas que se atreviam em seu caminho. Quando Joanita passava - que mais parecia um desfile divino - na rua, deixando seu cheiro tentador à sacanagem, os paus enrijeciam e pulsavam e as xoxotinhas piscavam e pingavam. Fazia gato e sapato dos pobrezinhos. Joanita era a Deusa da insanidade, a Rainha da liberdade, a Demônia do sexo, a lascívia encarnada. Era luz e trevas de todos que lhe usavam. Era água que saciava tesões animalescos de seus escolhidos. Joanita respirava e suava libertinagem. Joanita era tudo e nada. Joanita era Joanita. Joanita... Era mulher.

Apenas... Mulher...

Joanita.

(Marcos Ubaldino)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Senhor das Plantações Libertinas


Buscava todo dia, no café da padaria, um sabor mais doce que a amargura do cansaço. Pegava a condução, lotada de coisas que não são aquilo que ele esperava. Chegava no trabalho rabugento, sentava numa cadeira que, de tanto suportar o peso de uma vida conduzida pelo marasmo da mesmice e pela ausência de sentimentos distintos, ficara dura como pedra. A dureza da cadeira harmonizava com a de seu coração, que sequer compreendia outro sentimento se não o da ausência. Girava, girava, girava na endurecida cadeira de rodinhas, como se fosse um parque de diversões, ao mesmo tempo em que fechava os olhos e sorteava um rumo aquém do que planejara pra si. Adorava a tristeza, não a largava nunca. E quando ela tomava outro rumo, ele corria atrás dela e a abraçava com um abraço de jamais largar. A tristeza era a Musa que conduzia sua sanidade. Não vivia sem ela. Certa vez, degustando sua solidão num boteco, um jovem solitário se aproximou, olhou-o nos olhos e perguntou-lhe: 

- Existe coisa pior que olhar com saudade para o passado? 

Ele respondeu em rebatida única:

- É claro que sim! Olhar com tristeza. Feio é ser infeliz. A beleza é só uma passagem meu filho, a permanência é cruel, sempre. O fardo mais cruel de se carregar é ser o que se deve e não o que se é.

- E o amor? - Perguntou-lhe o jovem no auge de sua solidão afogadora, sedento por sabedoria:

Com um riso choroso de canto de boca, inventado junto à um balançar negativo de cabeça, com os olhos fixos no copo, piscando com indas e vindas de negação, ele respondeu:

- Amor é a morte do dever, uma arte ruim para se apreciar. Amor é o início do que já terminou. O princípio do fim. O calor do fogo apagado. O cheiro do vento ficado. A brisa sem vento.

Tomando como se fosse o último gole de um vinho velho, com um despertar de sabedoria sofrível, ele proclamou, num tom descrente e fiel ao mesmo tempo:

- Minhas palavras cheias de orgulho, vaidade e desapego, são vazias de verdade. Não deixe eu enganar você. No fundo, tu sabes que, o que sai da mim é o oposto do que vive em mim. O que sai da minha boca, é um grito desesperado e mentiroso da língua desmentindo o coração.

Depois disso, levantou-se de sua cadeira de madeira, bateu sua tulipa em forma de final perfeito na mesa de madeira, e foi-se embora, com seu coração de madeira. Mas antes de partir, abraçou o jovem curioso, beijou-o na testa, trazendo-a até seu peito, como se afagasse um filho. Olhou-o nos olhos, estendeu-lhe a mão e, no apertar das palmas, deixou esvair sobre os dedos, um guardanapo amassado nas mãos do jovem e partiu. Ao chegar em casa, embriagado de dúvidas e curiosidade, o jovem deitou-se em sua cama e desembrulhou o papel, que dizia:

"Se o frio não existe e é apenas a ausência de calor, logo, a felicidade também não. Esta é apenas a ausência da tristeza. Aprenda a degustar a dor, amenize com sal ou mostarda. Ela será seu prato principal para o resto da vida. Seja feliz na alegria e triste na tristeza. Não misture ou troque os dois nunca, aprenda a dividir. Palavras ruins não mudam sentimentos bons. Os ouvidos ouvem, a alma dói, mas o coração prevalece. E quanto ao amor, meu jovem... Dias que sinto muito, dias pouco... Mas, sinto todos os dias... O dia todo."

O jovem plantara velhice sábia em seu peito, idolatrando seu velho conselheiro. O velho colhera consequências joviais de escolhas passadas, transformadas em experiências, ensinadas como sabedoria e mitificadas como a verdade para se viver. O fim é apenas o princípio do fim... É apenas, o começo de um final feliz... E fim.

(Marcos Ubaldino)