quarta-feira, 1 de abril de 2015

Epíteto à Santa Joanita Bassárida


No auge de seus vinte e seis, pele branca como poupa de maçã, cabelos negros em caracóis, como o mar do Arpoador à noite, até o meio das costas. Olhos grandes, como duas Marias do céu. A boca mais perfeita que a perfeição, com um sorriso que supera adjetivos. Os seios? Ah... Os seios... Mais carnudos que um caju maduro, pronto para desfalecer do pé. De tão duros, apontavam aquelas torneiras rosadas, encarando qualquer olhar atravessado. Água-me à boca só de pensá-los. A barriga mais parecia uma cachoeira de tão bela, e se abria nas ancas de viola que tinha. Que desenho! A bunda, mais parecia o Pão de Açúcar no auge da Belle Époque carioca, com toda a pompa e charme de madame perfumosa. A curva das virilhas, com uma pelugem rala nas bordas daqueles pequenos lábios umedecidos, emendava-se em perfeita sintonia com seu botão de algodão, de tão macio e suave aos olhos. As pernas conversavam com aqueles pés mais gostosos que pão francês. Perfeição não define aquela moça, ela transcendia padrões, achismos e certezas. Era a Filosofia em persona, onde, só de olhar, se libertava da ignorância e dava-se boas vindas ao conhecimento. Ela era o próprio! 

Joanita estuprava a vida de tanta liberdade. Não cabia nada em Joanita, ela transbordava tudo por onde passava. Detestava qualquer sensação de prisão, por isso não usava sutiã. Achava o mesmo das calcinhas, mas sua depravação e gosto pela sacanagem fizeram ela superar tal prisão e se render às rendinhas de variadas cores e tamanhos que adorava usar. Era uma louca em seu tempo. Uma vez, na fila da praia de Copacabana, baixou sua insanidade transbordante, saiu correndo, passou pelo medidor de trajes e, enquanto ia em direção à vitalidade do mar, arrancou seus trajes desmedidos, deixando as tetas à mostra, com as pontas que mais pareciam cerejas de tão deliciosas, à luz do sol. Deu dois mergulhos e, aos gritos de "meretriz", acenou aos banhistas da fila, mandando beijos e soprando-os até os indianos. Maluca! Joanita era desvairada em vida.

Joanita era mulher, ninfeta e ninfomaníaca. Adorava sair na rua com os caracóis em rabo de cavalo, uma blusinha curtinha e transparente o suficiente para salientar as bicas que pareciam miolo de melancia, estourando, gritando liberdade de tão acesas e rígidas. A saia eram dois palmos de pedreiro acima do joelho, e a calcinha, vermelhinha, mas quase invisível de tão pequeninha. Era cavada no botão e na perseguida, deixando um cheirinho maravilhoso. Ela amava ser olhada, ser desejada, ser admirada, mas ai dos dedos que lhe tocassem e da boca que proclamasse "gostosa". Ela odiava! Por vezes, deixava às claras seus desejos. Joanita não tinha preferência, ela só era quem era, nada mais. Gostava de paus pretos, brancos, amarelos, pardos, rosas, roxos... Não tinha preferência. Adorava rolas grossas, finas, grandes, pequenas, cabeçudas, tortas, veiudas, sacudas... Joanita gostava e gostava muito. Chupava que nem uma desesperada. Fazia da pica um pêssego em caldas, de tanto que babava a cabeça e o resto. Ela adorava isso... Ficava horas, só chupando, e babando, e cheirando, e apertando, e babando, e chupando... Não cansava nunca. Sugava as bolas com tanta fome, que pareciam uvas descaroçadas. Botava tudo na boca, engolia de uma vez só e depois cuspia, lambendo, cheirando e esfregando o rosto naquele saco babado. Apertava a rola com tanta força, que as veias saltavam de alegria, e enquanto esgarçava a piroca até o talo, sugava a cabeça com tanto gosto que fazia barulho quando a boca se separava da rola. Que alegria daquela menina... Não podia ver uma rola torta e dura que já aguava de felicidade. Como gostava de pirú aquela moça... Ela chupava, babava, cheirava e passava na cara, tudo com um sorriso safado no rosto. Ela ria com a pica na goela. Rola, era sinônimo de felicidade para aquela menina. Só parava de chupar pra dar de quatro no chão. Sim, tinha que ser no chão puro e gelado, coisa dela. Tirava o pau da boca já caindo de quatro e intimando o dito cujo à adentrá-la com força, como ordem de atravessá-la ao meio de tanta selvageria. Ela gostava assim, desse jeito. Queria forte e fraco, queria mandar e obedecer, queria bater e apanhar... Ah, é mesmo, Joanita adorava apanhar. Gostava de tomar tapa na cara e pedia pra ser xingada. Ele gostava da sensação de ser tratada com possessividade. Gostava de ser uma coisa, um bicho selvagem na hora de trepar. Mas o jogo virava, e quando ela cavalgava por cima, era vez dela meu amigo. Enquanto sentava raivosa, arranhava, com suas unhas enormes, o peito do macho até sangrar. Era doida, tô dizendo.

Joanita era também, apreciadora nata de rachas fêmeas. Apesar de adorar um beijo grego e um fio-terra nos machos que comia, Joanita não resistia à uma rachinha lisa e cheirosa. Ela clamava, pedia, implorava... Sua boceta piscava mais que asa de beija-flor quando sentia o cheirinho das xoxotinhas das moças da sua rua. Joanita gozava galões quando puxavam seus caracóis com força pra trás, enquanto sua boceta era magoada com estocadas firmes, fazendo sua racha se encharcar, ficar em caldas, escorrer de tanta vontade de foder pra sempre. Melhor ainda quando, ao ser invadida por trás, tivesse à sua frente, uma racha ralinha em pêlos, aí ela enlouquecia. Joanita chupava boceta igual mendigo comendo mamão, se lambuzava toda. Adorava uma bocetinha... Aos sábados, ela tinha súbitos de bacante, e distribuía o que era dela pra dois, três, quatro... Sem medo de ser feliz. Se enfiava e era enfiada, dava e recebia, por homens, mulheres, moças, rapazes, senhoras, senhores... Ela só queria comemorar.

Joanita era famosa, porém discreta e respeitosa. Seus desejos e depravações se ateavam nas paredes que ocultavam sua selvageria e libertava sua loucura. Era a Literatura poética do bairro, um mito vivo. Joanita era uma dama, educada nas escolas Parisienses, pautada no moral e nos bons costumes da Igreja de São Marcos, no bairro onde morava. Igreja esta que mais parecia um Templo Dionisíaco de tanta sacanagem entre clérigos e leigos. Padre Armando que o diga... Catequista de Joanita quando a menina tinha quatorze aninhos, dava-lhe a comunhão de domingo, acompanhada de uma passada de mão nas tetas. Ela adorava aquilo... Quando todos partiam, ela ficava para ajudá-lo à arrumar a Igreja. A arrumação terminava com a boca de Joanita na rola do Santo Padre, bem na salinha ao lado do Presbitério, onde se guardava as batinas de Armandinho, o Padre de Sodoma. Ela chupava com uma fidelidade digna de uma boa religiosa, chupava que parecia rezar. Armando dava graças gozando no rostinho jovial e inocente de Joanita, que não deixava uma gota pra contar história. Ao final da arrumação, ela confessava seus pecados à Armandinho, que absolvia a pequena vadia mediante boquetes famintos em posteriores domingos. Joanitinha adorava pagar por seus pecados... Menina educada, também adorava ser chupada. A sensação de ser engolida viva, de ser sugada por um grande aspirador de bocetas em carne, sangue e cuspe, fazia a moça gozar múltiplas vezes nas línguas que deslizavam seu corpo. Era como se uma cascata grossa de cachoeira entrasse em sua caverna, preenchendo todos os buracos de uma vez só. Gozava tanto, que esguichava quatro metros e meio de tanta safadeza.

Joanita era uma inconstância ambulante, uma menina que fazia da vida, céu e inferno. Resolvia tudo na terra, no tapa, no cuspe, na boceta, no tesão, no esperma, no campo da carne. Nada morria na imperfeição da sua imaginação. Era uma danada dos diabos que, tentava a masculinidade dos machos e a curiosidade das fêmeas que se atreviam em seu caminho. Quando Joanita passava - que mais parecia um desfile divino - na rua, deixando seu cheiro tentador à sacanagem, os paus enrijeciam e pulsavam e as xoxotinhas piscavam e pingavam. Fazia gato e sapato dos pobrezinhos. Joanita era a Deusa da insanidade, a Rainha da liberdade, a Demônia do sexo, a lascívia encarnada. Era luz e trevas de todos que lhe usavam. Era água que saciava tesões animalescos de seus escolhidos. Joanita respirava e suava libertinagem. Joanita era tudo e nada. Joanita era Joanita. Joanita... Era mulher.

Apenas... Mulher...

Joanita.

(Marcos Ubaldino)

4 comentários:

  1. Que texto maravilhoso! Selvagem! Liberto!
    Muito bom, mesmo.
    Parabéns pela criação, Marcos.

    Abraços!

    Meus blogs literários:
    O Poeta e a Madrugada (Contos e Poesia)
    Dark Dreams Project (Contos de suspense e terror)

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    1. Sempre presente e participativo, rs. Obrigado pelo carinho meu camarada!

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  2. Joanita desafiava as leis dos sem leis. Certamente, deixava Anitta (do Manoel Carlos) e Geni, de Chico Buarque, no chinelo.

    E comeria as duas...

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    1. Joanita era o Caos e certamente sofreu influência de Anita, Geni e outras raparigas safadas e inconsequentes.

      Comeria as duas juntas.

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